A Diabetes mellitus tipo 2 é um distúrbio metabólico caracterizado pela hiperglicemia.
A homeostase da glicose reflete um equilíbrio entre a ingestão de energia dos alimentos, a produção hepática de glicose (gliconeogénese) e a captação e utilização de glicose pelas células, sendo que a insulina é o regulador mais importante deste equilíbrio metabólico.
A insulina é produzida pelas células beta nas Ilhotas de Langerhans do pâncreas.
Quando a insulina entra na circulação sistémica, liga-se a recetores localizados nas membranas celulares estimulando a captação de glicose pelas células alvo.
A glicose é o regulador chave da secreção de insulina pelas células beta pancreáticas, sendo que níveis de glicose > a 70mg/dL estimulam a síntese de insulina.
Investigar as Causas
No estudo: Impaired mitochondrial activity in the insulin-resistant offspring of patients with type 2 diabetes, publicado no New England Journal of Medicine, investigadores da Universidade de Yale relataram ter encontrado dentro das células de indivíduos resistentes à insulina, pequenas quantidades de gordura (gordura intramiocelular) que interferia com a capacidade de a insulina desempenhar a sua função. Os seus pâncreas produziam insulina normalmente, no entanto, ao chegar às células musculares a insulina não conseguia desempenhar a sua função. As células musculares não respondiam à insulina devido à gordura intramiocelular que interferia com a sua ação (Kitt Falk Petersen et al. 2004).
Normalmente as células hepáticas e musculares guardam pequenas quantidades de gordura para ser usada como energia em caso de necessidade. No caso de indivíduos resistentes à insulina, estas reservas de gordura são até 80% superiores do que em indivíduos saudáveis, o que vai interferir com a capacidade de as células responderem à insulina.
No estudo: A high-fat diet coordinately downregulates genes required for mitochondrial oxidative phosphorylation in skeletal muscle, publicado no jornal académico da American Diabetes Association, investigadores do Pennington Biomedical Research Center submeteram os participantes do estudo a uma alimentação com 50% das calorias diárias a virem de fontes de gordura e observaram que ao fim de somente 3 dias, os participantes já tinham acumulado quantidades significativas de gordura intramiocelular.
Além disso os investigadores também observaram uma diminuição da biogénese mitocondrial (Lauren M Sparks et al. 2005).
A alimentação rica em gordura além de causar um aumento nos níveis de gordura intramiocelular, vai também induzir uma diminuição do número de mitocôndrias, reduzindo, assim, a capacidade de as células utilizarem essa mesma gordura intramiocelular.
Terapêutica
Até ao presente, as dietas indicadas para a diabetes não têm sido pensadas para alterar o que se passa dentro das células (acumulação de gordura intramiocelular), mas sim para compensar o problema criado devido a essa acumulação (resistência à insulina).
Segundo o estudo: Insulin resistance in morbid obesity: reversal with intramyocellular fat depletion, publicado no Journal of Diabetes Research, a privação de lipídios na alimentação diminuí seletivamente as reservas de lipídios intramiocelulares e induz um estado metabólico normal em termos de eliminação de glicose mediada por insulina, sinalização de insulina intracelular e níveis de leptina circulante, apesar de um excesso persistente de massa gorda corporal (Aldo V Greco et al. 2002).
Alimentação Macrobiótica na Diabetes Tipo 2
Segundo a revisão sistemática: Ma-Pi 2 macrobiotic diet and type 2 diabetes mellitus: pooled analysis of short-term intervention studies, publicado no jornal académico Diabetes/Metabolism Research and Reviews, a alimentação macrobiótica, em apenas 21 dias, reduziu significativamente os valores de glicemia capilar (-39.6%), colesterol LDL (-26.9%), triglicéridos (-41.7%) e % de massa gorda (-5.4%) (C Porrata-Maury et al. 2014).
No estudo: Ma-pi 2 macrobiotic diet intervention in adults with type 2 diabetes mellitus, publicado no jornal académico MEDICC Review, pacientes diabéticos a fazerem insulina injetada e, apesar disso, com valores de hemoglobina glicada de 12.6% (acima dos 300 mg de glicose por dl de sangue durante, pelo menos, os últimos 3 meses) foram colocados numa dieta macrobiótica 100% de origem vegetal (Ma-pi 2) centrada nos cereais integrais, vegetais e leguminosas.
Ao fim de 6 meses, esses mesmos pacientes que iniciaram o estudo com valores de hemoglobina glicada de 12.6% conseguiram baixar esses valores para 5.70%, isto após eliminarem as injeções de insulina (Carmen Porrata et al. 2009).
No estudo randomizado e controlado: The effect of the macrobiotic Ma-Pi 2 diet vs. the recommended diet in the management of type 2 diabetes: the randomized controlled MADIAB trial, publicado no jornal académico Nutrition & Metabolism, pacientes diabéticos foram randomizados (escolhidos de forma aleatória) para uma dieta macrobiótica vs a dieta recomendada pela American Diabetes Association.
Tendo-se concluído que os pacientes que consumiram a dieta macrobiótica obtiveram uma redução significativamente maior em termos de níveis de glicose no sangue em jejum, glicose no sangue pós-prandial, hemoglobina glicada e HOMA-IR, em comparação com os pacientes que receberam a dieta controle, sugerindo que a dieta macrobiótica Ma-Pi 2 é uma intervenção dietética mais eficaz do que a dieta padrão recomendada para melhorar o controle metabólico em pacientes com diabetes tipo 2. Além disso, uma perda de peso significativamente maior foi obtida no grupo de dieta macrobiótica em comparação com o grupo de controle, apesar do consumo do mesmo conteúdo de energia em ambas as dietas.
Ambos os grupos começaram com valores de glicose em jejum um pouco acima das 120mg/dL quando esses valores deveriam estar abaixo das 100mg/dL, sendo que como se pode ver no gráfico, a dieta macrobiótica foi mais eficaz a baixar os valores de glicose em jejum do que a dieta recomendada pela American Diabetes Association.
Por fim, é interessante observar que na dieta macrobiótica a quantidade média diária de hidratos de carbono foi de 335,7g e na dieta controle de 235,8g.
A ingestão energética média diária durante o ensaio foi de 1803 kcal (11,8% de proteína, 15,2% de gordura e 73,0% de hidratos de carbono, com 29g/1000 kcal de fibra) no grupo da dieta macrobiótica e 1798 kcal (18,4% proteína, 32,3% gordura e 49,3% hidratos de carbono, com 20,5g /1000 kcal de fibra) para o grupo controle (Andreea Soare et al. 2014).
Segundo a análise post hoc (estatística): The effect of macrobiotic Ma-Pi 2 diet on systemic inflammation in patients with type 2 diabetes: a post hoc analysis of the MADIAB trial, publicada no jornal académico BMJ Open Diabetes Research & Care, a dieta macrobiótica é uma estratégia alimentar segura na redução dos marcadores de resistência à insulina e inflamação, sendo inclusive superior na redução dos níveis de Igf-1 em relação à dieta controle com base nas diretrizes dietéticas para a diabetes tipo 2 (Andreea Soare et al. 2015).
Segundo o estudo: A 6-month follow-up study of the randomized controlled Ma-Pi macrobiotic dietary intervention (MADIAB trial) in type 2 diabetes, publicado no jornal académico Nutrition & Diabetes, a dieta macrobiótica resultou numa melhoria significativamente maior no controle metabólico em comparação com a dieta padrão recomendada para pacientes com DM2 (Andreea Soare et al. 2016).
Estudos Adicionais Alimentação Macrobiótica na Diabetes Tipo 2
Segundo o estudo: Medium- and short-term interventions with ma-pi 2 macrobiotic diet in type 2 diabetic adults of bauta, havana, publicado no Journal of Nutrition and Metabolism, durante a intervenção com uma dieta macrobiótica, a ingestão de energia foi 200 kcal superior, com mais hidratos de carbono complexos e fibra alimentar e menos gordura e proteína. A pressão arterial e os indicadores bioquímicos séricos diminuíram significativamente e, os indicadores nutricionais de segurança (hemoglobina, proteínas totais séricas e albumina), não apresentaram variações. O risco cardiovascular global diminuiu e o consumo de insulina diminuiu 46% e 64%, em ambos os períodos, respetivamente, concluindo-se que a dieta macrobiótica foi uma terapia bem-sucedida para diabéticos tipo 2. (Carmen Porrata-Maury et al. 2012).
Segundo a revisão sistemática: Gut microbiota and Ma-Pi 2 macrobiotic diet in the treatment of type 2 diabetes, publicado no World Journal of Diabetes, em ensaios de curto e médio prazo conduzidos em pacientes com DM2, a dieta macrobiótica demonstrou melhorar significativamente os indicadores de controle metabólico, incluindo glicose no sangue em jejum, hemoglobina glicada, perfil lipídico sérico, índice de massa corporal, peso corporal e pressão arterial (Francesco Fallucca et al. 2015).